terça-feira, junho 30, 2009

Fazenda da Quietude

O vento dos Campos de Cima da Serra envolvem o andarilho de um misto de frio e aconchego. Próximo a uma sanga, uma mula parada. Ao seu pé um ébrio cochila a pouco se importar com o frio. Faz tempo que está lá.

A cavalgada segue, em meio a campos amarelos, limitados pela aspereza oposta das pedras dos cânions onde nasce uma cascata de pedras negras. A água cristalina lentamente cai.

A vista é ímpar. O silêncio também. Até o vento respeita o nome daquele lugar... Fazenda da Quietude.

Quietude que se basta para limpar a cabeça daqueles que lá aportam, que preenche com novas energias o coração cansado do cavaleiro da armadura de lã.

Mais alguns metros e chegamos à sede, onde o crepitar do fogo da lareira descongela os pés e assa um saboroso carré de ovelha.

Fogão à lenha, tapetes de couro e um chapéu gaudério pendurado. As janelas encarnadas contrastam com o verde da mata nativa... lá no meio desponta uma Araucária...

O lampeão de gás denuncia que a luz elétrica ainda não passa por ali...

Paz!

sábado, junho 06, 2009

Que venha o frio...

O alegre estalar da lenha anuncia uma nova imagem do dia: o fogo cada vez mais perto e mais presente no cotidianho. Crianças brincam sentadas no tapete, próximas entre si e à lareira. O pinhão recém saído da panela de pressão estampa sorrisos nos rostos dos pequenos.

Pés com meias fofas esfregam-se enquanto as mãos frágeis e ainda inseguras torcem e inventam novas modelagens às massinhas hoje atóxicas.

Não longe, adultos sentados à mesa ensaiam um carteado. Cartas, hoje plásticas, refletem a luz e por pouco não se reproduzem no sorriso daquele mais abençoado pela sorte. Vinho tinto, pipocas... é junho.

O triste estalar do dendes que se chocam, o queixo trêmulo e os dedos gélidos anunciam uma nova dor: a dor do frio. Sentadas ao chão, pequenas crianças, muito próximas, procuram no corpo das outras o calor que lhes falta.

Pézinhos descalços e sujos esfregam-se enquanto a imaginação procura aquecê-los... Próxima, a cola tóxica.

Perto, adultos em caixas de papelão conversam e riem como se o frio e as dificuldades de uma vida acre não existissem. Superam momentaneamente. A cachaça ajuda... é... é junho.