domingo, março 28, 2010

A punição como diversão a despeito da dor.

Durante o Império Romano, báraros vencidos, marginais e contestadores à ordem romana, enfim, os que rompiam as normas, eram levados aos anfiteatros para lutarem contra “semelhantes” ou leões, a fim de divertirem ou entreterem aquele microcosmo social representado nas arquibancadas (GUARNIELO, Norberto Luiz. Violência como espetáculo: o pão, o sangue e o circo.).



No Ancien Régime, em frente ao Hôtel-De-Ville, durante os séculos XIV e XVIII, uma multidão se acotovelava para assistir e vibrar com enforcamentos, esquartejamentos, torturas e incinerações. Após a Revolução Francesa a assistência também lá comparecia, mas então, para assistirem o funcionamento da guilhotina. Comenta-se, inclusive, que quando da primeira execução por este instrumento – de Nicolas JacquesPelletier – a multidão saiu decepcionada com a rapidez do processo. O jornal francês La Chronique referendou o caráter “humanitário” da nova ferramenta: "Ela não mancha a mão de um homem da morte de seu semelhante, e a prontidão com a qual abate o culpado está mais de acordo com o espírito da lei, que pode muitas vezes ser severa, mas que não deve jamais ser cruel".

No Brasil, em 27 de março de 2010, após a leitura do veredito da condenação de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, por volta das 0h 20min, centenas de pessoas, entre elas crianças levadas pelos pais, aplaudiam a decisão, acendiam fogos de artifícios e, em êxtase, gritavam e cantavam: “eia, eia, eia, eles vão para a cadeia!!”, "Pega lá, pega lá, pega lá, pra nós linchar!!!”...

A população comemora e sorri! Apesar de todas as vidas desgraçadas... Da mãe e de sua família; dos pais e dos filhos de Alexandre e Anna Carolina e, principalmente, de Isabella. O silêncio teria sido a melhor manifestação de respeito ao drama familiar que todos nós assistimos.

O tempo passa e a sede por sangue é a mesma...

domingo, março 21, 2010

Once, apenas uma vez!!!


Vi e corri pra cá.

Quem não gosta de música não deve perder seu tempo.

Pra quem gosta e se toca com a simplicidade, vale a pena (aliás, de pena não há nada).

Once (Apenas uma vez, em porutguês) é o que pode se chamar de um musical do século XXI; sem danças, só músicas em meio a alguns diálogos, ou melhor, as músicas são os diálogos.

Demora cico minutos após passarem as letrinhas para percebermos que as personagens principais não possuem nomes. E perdemos uma fração de segundo para notarmos que os nomes não fizeram a menor falta.

Ao contrário do padrão dos contos de fadas com finais felizes ou do realismo de conclusões tristes, Once é diferente. Calma, não vou contar o final, mas nos sentimos bem após a conclusão - se é que se pode chamar assim.

O filme se destaca pela sua simplicidade. Em certos momentos lembra um vídeo caseiro em que a sensibilidade é o seu grande trunfo. Diálogos curtos, mas com sutilezas ricas, somam-se a letras e melodias de raro bom gosto.

Recomendo.