
Nem sempre o que é claro é o visível.
Naquelas manhãs de ressaca, quando abrimos a veneziana, sentimos os raios do sol como duas lanças a perfurarem nossos olhos. A ponta da lança atinge nosso cérebro e uma pancada surda quase nos derruba. Fechamos a cortina rapidamente, e, como um lutador de boxe (ou vale-tudo, adequando-se à moda) que precisa do gongo, mergulhamos novamente nas águas doces da nossa cama.
Assim, mesmo na percepção dos sentidos, às vezes, a clareza nos cega.
Da mesma forma, em determinados momentos da vida, não é raro assistirmos situações pelas quais amigos passam e que parecem tão claras para nós que estamos longe do conflito. Não conseguimos compreender a dificuldade de superação do problema.
Por outras, nos sentimos idiotas quando alguém alheio ao nosso drama, cutuca um dos nossos ombros e olha nos olhos com cara de quem está falando com uma planta e esfrega a resposta óbvia na nossa cara.
Há como superar a cegueira da luz? Não sei. Mas tentar olhar a situação mais de longe, como se não fôssemos as personagens do filme, mas apenas uma câmera que acabou de invadir o espaço de alguém, sem roteiro, sem diretor e sem (muito)drama. Luz (agora sim), câmera e ação!