domingo, dezembro 05, 2010

E o Rio de Janeiro continua.

Tom Jobim disse:
"Cristo Redentor, braços abertos
Sobre a Guanabara
Esse samba é só porque
Rio eu gosto de você..."

Quem não gosta do Rio?
Algum paulista, talvez, recalcado porque a Av. Paulista não é lambida pelo mar...
Todo brasileiro gosta do Rio de Janeiro, ou simplesmente, Riiio, comodizem os cariocas da gema.
O Rio é o logos da identidade do brasileiro. O Brasil não começou por lá, mas foi "inventado" lá. Dom João VI tranpôs Lisboa para o Rio e penso que a nobreza recém chegada, deve ter adorado a mudança de ares.
Desde então é o porto cultural brasileiro. A capital. Pouco importa que o parlamento e o planalto estejam em Brasília e o dinheiro em São Paulo. O Rio é a capital cultural do Brasil e o que acontece lá, tanto no ambiente cênico como no asfalto quente, retumba, muito mais que ecoa.
Ah, foi lá que se inventou o jeito brasileiro de jogar futebol.
Mas deixando a bola, o samba, a bossa nova e o teatro, temos cenas entrecortadas, da multifacetada cidade, como em um roteiro:
"Passarela do samba. Externa. Noite.
Uma linda mulata, dona de um corpo de belas curvas, vestida com plumas coloridas, samba no pé ao som de uma competente bateria, que ataca os tamborins. Corta!
Favela. Externa. Noite.
Tiroteio. Policiais de uniforme preto, portam armamento pesado. Corta!
Topo do Morro. Externa. Dia.
Homens correm em fuga. Carregam armas e não usam uniformes. Alguns, até, sem camisa. Um deles leva um tiro. Corta!
Maracanã. Externa. Dia.
Jogadores do Flamengo correm atrás do camisa 9 para comemorarem um gol junto à torcida. Fim!
Esse é o Rio. Uma cidade multifacetada com contrastes de alegria e violência em seu cotidiano sem divisão de tempo entre os acontecimentos. Tudo acontece ao mesmo tempo, embora o tempo de hoje seja "A guerra contra o tráfico". Bush certamente deve estar orgulhoso do título.

Tratarei do tema com calma. Hoje, deixarei, apenas. alguns pontos para "pensar na cama".
- A ocupação do complexo do alemão demorou uma hora e meia;
- A razão dos atos de vandalismo foram as UPPs;
- Não há UPP no complexo do Alemão;
- O Complexo do Alemão é um bairro que abriga algumas das favelas do Rio de Janeiro;
Não tem muita água turva pra passar sob essa ponte???

quarta-feira, setembro 22, 2010

Menor não vai para a cadeia...


O Conselho Nacional de justiça visitou o "Centro de Atendimento Juvenil Especializado" do Distrito Federal. Deixando eufemismos de lado, a cadeia destinada ao depósito dos menores acusados da prática de atos infracionais.

Isso aconteceu na terça-feira, dia 21. O que o CNJ constatou?
Vagas: 160
Presos: mais de 320

Celas para dois adolescentes eram ocupadas por quatro ou cinco.

Foi constatada a má qualidade na alimentação, a falta de material em oficinas de trabalho e falta de aulas e professores.

Algo perfeitamente compreensível tendo em vista que o estabelecimento é voltada para a inserção de "medidas sócio-educativas".

Penso naquelas pessoas que afirmam que menor não vai para a cadeia e concluo. Sim, de fato, elas têm razão...

quinta-feira, setembro 16, 2010

Fundamentalismo laico ou E 68 se foi...


A França é o território onde se encontrava uma pequena aldeia de intrépidos Gauleses. Asterix e Obelix divertiam-se ao manter a independência e a cultura de seu povo em meio a um opressor exército de loucos romanos.

Fora da ficção, foi lá que floresceu o iluminismo e as bases do Estado de Direito ocidental. Lá é a casa da secularização, da tolerância (sem trocadilhos nem espartilhos com o Moulin Rouge).

Os movimentos contraculturais encontraram seu estuário em Paris, em maio de 68. Lá se estabelecia a reivindicação estudantil de valores hoje tão intrínsecos de nossa sociedade XXI, ecologia, pacifismo, liberdade sexual, anti-autoritarismo, igualdade de direitos independentemente de gênero ou raça. Em resumo: era proibido proibir (défense d'interdire).

Dia 14 de setembro de 2010, a Assembleia Nacional, por 246 votos a 1, proibiu "a dissimulação do rosto em espaço público". O alvo da lei não é o mímico de rua parisiense que pinta o rosto dissimulando-o no espaço público, mas sim as muçulmanas que vestem o "niqab" (da foto) ou a "burca".

Obviamente que não defendo o uso de tais vestimentas pelas mulheres, mas advogo sem dúvida em favor da liberdade de pensamento, de expressão e de religião. O estado laico tem por característica evitar a imposição religiosa ao cidadãos. Contudo, contraria seus postulados básicos de liberdade impedir a manifestação da liberdade religiosa.

A proibição imposta às muçulmanas consiste no mesmo que proibir a utilização de crucifixos pelos cristãos ou de kipá pelos judeus em lugares públicos. Para muitas mulheres muçulmanas residentes na França, faz parte do respeito aos ditames de sua religião cobrir os cabelos e o rosto. Estima-se que duas mil mulheres usem tais vestes na França.

O fundamentalismo laico, sob a roupagem de uma norma de segurança ou de proteção de direitos da mulher, inverte o eixo de perversidade e impõe a neutralização religiosa. Voltaire revira-se no Pantheón de Paris, onde está enterrado. Não há tolerância no fundamentalismo laico.

O parlamento francês e os que apóiam tal decisão contrariam a história da França, o mito da liberdade - a Marianne semi-nua empunhando a bandeira bleu-blanc-rouge seguida pela multidão na luta pela liberdade, hoje se encontra moribunda às margens do rio Sena... e nem Paris existe mais...

terça-feira, agosto 17, 2010

"War is over" ou 10 minutos.



Encontrei esses meus rabiscos em meio a uma folha amassada e achei legal trazer pra cá.

War is over?
Será?
Nos tratados de paz sim, John, mas não em nossos espíritos. Aqui dentro a guerra continua... e cada vez pior. Mais brutal. Selvagem.
Olho para o motorista do carro ao lado como um adversário. Alguém a quem eu nego a condição humana. Desconheço-o. É o oponente a ser batido.
O oponente por um espaço maior, para alcançar a fila certa, que devo vencer para que eu chegue antes...
Dez minutos antes...
Antes de nada.

sábado, agosto 14, 2010

A cegueira do claro ou A escuridão da luz!



Nem sempre o que é claro é o visível.

Naquelas manhãs de ressaca, quando abrimos a veneziana, sentimos os raios do sol como duas lanças a perfurarem nossos olhos. A ponta da lança atinge nosso cérebro e uma pancada surda quase nos derruba. Fechamos a cortina rapidamente, e, como um lutador de boxe (ou vale-tudo, adequando-se à moda) que precisa do gongo, mergulhamos novamente nas águas doces da nossa cama.

Assim, mesmo na percepção dos sentidos, às vezes, a clareza nos cega.

Da mesma forma, em determinados momentos da vida, não é raro assistirmos situações pelas quais amigos passam e que parecem tão claras para nós que estamos longe do conflito. Não conseguimos compreender a dificuldade de superação do problema.

Por outras, nos sentimos idiotas quando alguém alheio ao nosso drama, cutuca um dos nossos ombros e olha nos olhos com cara de quem está falando com uma planta e esfrega a resposta óbvia na nossa cara.

Há como superar a cegueira da luz? Não sei. Mas tentar olhar a situação mais de longe, como se não fôssemos as personagens do filme, mas apenas uma câmera que acabou de invadir o espaço de alguém, sem roteiro, sem diretor e sem (muito)drama. Luz (agora sim), câmera e ação!

segunda-feira, julho 12, 2010

Recomeçar?

Fim de Copa e surge a questão.
Continuo com o "felipescreve"? Chegou um momento em que caí na armadilha de ter "vários blogues". Sim. Um dia resolvi criar o "fcmo.blogspot.com" para tratar de questões relacionadas à criminologia, direito penal e processo penal.
O tempo passou, a PUCRS passou a fazer parte da minha vida, e criei blogs para os meus alunos (fcmopenal2.blogspot.com e fcmopenal3.blogspot.com).
Resultado, parei de atualizar fcmo e felipescreve.
Em relação aos blogs das turmas da PUCRS já resolvi e "fcmopenal 2 e 3" "morrem" em favor de "fcmopenal.blogspot.com.".
Ainda não sei o que fazer com fcmo e felipescreve. Eles são muito diferentes para fazerem parte um do outro.
Sinceramente, não sei.
Sei, apenas, que o futebol, a partir de agora, desaparece daqui.

quinta-feira, julho 08, 2010

E a Espanha perdeu a virgindade!!!




Sim. Finalmente. Depois de muito passeio de mãos dadas a Espanha foi lá e pegou a Alemoa! Digo a Alemanha.
Sim, o time alegre, técnico e rápido de Löw foi seduzido pelo toque de bola envolvente da Seleção de Penélope Cruz. Iniesta e Xavi, hábeis como Javier Bardem, levaram Scweinsteiger, Özel e companhia para um passeio de avião. Só que desta vez não foi para Oviedo (para uma boa comida, bons vinhos e etc., como em Vicky, Cristina, Barcelona), mas para Port Elizabeth, para a disputa do terceiro lugar.

Enquanto isso a Espanha na busca da taça tenta seduzir uma nova vítima: Bobbi Eden.
Mas cuidado!! Se a holandesa levar o espanhol para um coffee shop ele pode sair de lá meio "zen" e aí... corre o risco de que o "Robben" e não sobre "Sneijder" de todo aquele romantismo.

Em suma... páreo duro na final, sem prognósticos. Nem o Polvo Paul arriscaria!

segunda-feira, junho 14, 2010

Vuvuzelas e a ética da alteridade.


Duas (quase) unanimidades da Copa: a Jabulang é uma excelente bola... ...para a liga mundial de Vôlei... e a Vuvuzela é chata!!

Sim, é chata. Concordo, mas aquela buzina do Estádio de Tóquio é muito pior! O que incomoda na vuvuzela não é o barulho apenas, mas o fato de que o som vai durar, pelo menos, um mês.

Como bom chato, declaro-me (só pela próclise, não precisaria dizer o quão chato sou) a favor da Vuvuzela!!

Sim. Aquela corneta que não para, com o perdão da redundância, deve continuar. Por quê? Porque é uma das características do futebol sul-africano. Lá, jogo de futebol tem Vuvuzela. É o respeito à forma como aquele povo participa do futebol.

No Brasil, hoje se canta, mas durante muitos anos tivemos as charangas nos Estádios. Nada mais chato do que ver o seu time empatando ou perdendo e quatro ou cinco sujeitos impregnando todos os espaços dos ouvidos com o som de marchinhas de carnaval, tocadas por metais, em pleno frio de julho.

Nunca vi nenhum movimento contra as charangas. Hoje, elas foram silenciadas pelos gritos e cânticos das (des)organizadas. Ainda bem.

Lá isso ainda não chegou (talvez por causa das onze línguas, ou porque achem chato gritar, algo meio tribal, sei lá) e a vuvuzela preenche todo o espaço. É o som da Copa!

Prefiro as Vuvuzelas a ouvir do Galvão Bueno que o Michel Bastos "descolou" um lançamento; do Arnaldo que não foi pênalti porque o atacante "dobrou do joelho"; do Casagrande... a voz. Ou, ainda, ouvir o Luciano do Vale festejando "lateraaaaaaalll para o Braaaasilllll".

Deixem a Vuvuzela em paz! Deixem o povo sul-africano expor a sua forma de torcer!

Tolerar a vuvuzela é efetivar da ética da alteridade.

Em tempo de final de NBA, aquela musiquinha que toca em TODOS os ataques de TODOS os times, em TODOS os ginásios, também é insuportável, mas sem aquilo, não é NBA.

quinta-feira, junho 10, 2010

Conduta, Significado e Pós-modernidade.

Jornal Zero Hora, 22 de abril de 2010 – Página 32 – “Envolvido em uma briga em um hipermercado após estacionar o carro em uma vaga para deficientes, o comerciante Rudicir Fernandes de Freitas, 34 anos, diz que não dorme direito há três dias. Preocupado com sua imagem, ele afirma que passou a ser visto como um monstro, mas ressalta que é apenas um pai de família que trabalha 18 horas podia.”Após a referida discussão, Rudicir que tinha pressa em voltar para casa, a fim de assistir um jogo de futebol, atingiu Léo Mainardi, 49 anos, que o havia chamado de analfabeto, ignorante, corno e f.d.p., com uma barra de ferro na cabeça.

Página 33 – “Um dos autores da pichação da estátua do Cristo Redentor disse estar arrependido e que irá se entregar nos próximos dias à polícia. O pintor de parede Paulo Souza dos Santos, 28 anos, [casado e pai de um menino de 4 anos] afirmou que recorreu ao vandalismo para protestar contra a demora nas investigações de crimes no Rio”. Afirmou à reportagem do jornal O Dia: “- Queria pedir perdão a Deus e à população carioca. Eu sei que cometi um ato errado. As pessoas estão achando que sou bandido ou traficante. Não sou nada disso. Sou um ex-militar. Não tinha a noção de que meu ato teria essa repercussão toda.”

Rudicir e Paulo eram anônimos até então. Integravam a massa dos sem rosto. As câmeras do sistema de segurança do hipermercado e a publicidade natural do maior símbolo religioso do Brasil expuseram a outros “pais de família” os crimes[1] a eles atribuídos. Em sua perspectiva, não poderiam estar ali, frequentando as páginas policiais.

Experimentam o acre sabor da instantaneidade da repercussão de seus atos. Rudicir, mais tarde, em casa, viu-se protagonizando cenas de violência nos telejornais da noite. Paulo assistiu a sua contribuição à arte. Ambos só perceberam e concretizaram suas condutas quando a televisão lhes contou o que haviam feito. Parafraseando o segundo, não tinham noção que seus atos teriam tamanha repercussão.

O significado das ações se deu com a repercussão, como se sem ela as condutas não tivessem conteúdo.

[1. Aqui, a palavra crime não assume o conceito jurídico de injusto culpável, mas sim o conceito sociológico de crime como fato social. Sociólogos e criminólogos têm preferido utilizar a expressão desvio, a diferenciar do conceito jurídico de crime. Contudo, dentro de uma perspectiva criminológica entendemos necessário o resgate da expressão “crime”. O desvio, tal qual o crime, é um juízo de valor realizado sobre uma determinada conduta. Contudo, sua perspectiva é mais ampla, uma vez que se refere a qualquer comportamento desaprovado por um determinado grupo social, tenha previsão típica ou não. O desvio, assim, é a conduta que desborda dos padrões estabelecidos, sejam no ordenamento jurídico ou na esfera ético-moral da sociedade. A partir de uma percepção secularizada do fato social, onde o imoral não se confunde com o jurídico-penal, julgamos necessária a imposição de tal termo como marco limite a pontuar a análise que se faz do fato que tem repercussão criminal.]

domingo, março 28, 2010

A punição como diversão a despeito da dor.

Durante o Império Romano, báraros vencidos, marginais e contestadores à ordem romana, enfim, os que rompiam as normas, eram levados aos anfiteatros para lutarem contra “semelhantes” ou leões, a fim de divertirem ou entreterem aquele microcosmo social representado nas arquibancadas (GUARNIELO, Norberto Luiz. Violência como espetáculo: o pão, o sangue e o circo.).



No Ancien Régime, em frente ao Hôtel-De-Ville, durante os séculos XIV e XVIII, uma multidão se acotovelava para assistir e vibrar com enforcamentos, esquartejamentos, torturas e incinerações. Após a Revolução Francesa a assistência também lá comparecia, mas então, para assistirem o funcionamento da guilhotina. Comenta-se, inclusive, que quando da primeira execução por este instrumento – de Nicolas JacquesPelletier – a multidão saiu decepcionada com a rapidez do processo. O jornal francês La Chronique referendou o caráter “humanitário” da nova ferramenta: "Ela não mancha a mão de um homem da morte de seu semelhante, e a prontidão com a qual abate o culpado está mais de acordo com o espírito da lei, que pode muitas vezes ser severa, mas que não deve jamais ser cruel".

No Brasil, em 27 de março de 2010, após a leitura do veredito da condenação de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, por volta das 0h 20min, centenas de pessoas, entre elas crianças levadas pelos pais, aplaudiam a decisão, acendiam fogos de artifícios e, em êxtase, gritavam e cantavam: “eia, eia, eia, eles vão para a cadeia!!”, "Pega lá, pega lá, pega lá, pra nós linchar!!!”...

A população comemora e sorri! Apesar de todas as vidas desgraçadas... Da mãe e de sua família; dos pais e dos filhos de Alexandre e Anna Carolina e, principalmente, de Isabella. O silêncio teria sido a melhor manifestação de respeito ao drama familiar que todos nós assistimos.

O tempo passa e a sede por sangue é a mesma...

domingo, março 21, 2010

Once, apenas uma vez!!!


Vi e corri pra cá.

Quem não gosta de música não deve perder seu tempo.

Pra quem gosta e se toca com a simplicidade, vale a pena (aliás, de pena não há nada).

Once (Apenas uma vez, em porutguês) é o que pode se chamar de um musical do século XXI; sem danças, só músicas em meio a alguns diálogos, ou melhor, as músicas são os diálogos.

Demora cico minutos após passarem as letrinhas para percebermos que as personagens principais não possuem nomes. E perdemos uma fração de segundo para notarmos que os nomes não fizeram a menor falta.

Ao contrário do padrão dos contos de fadas com finais felizes ou do realismo de conclusões tristes, Once é diferente. Calma, não vou contar o final, mas nos sentimos bem após a conclusão - se é que se pode chamar assim.

O filme se destaca pela sua simplicidade. Em certos momentos lembra um vídeo caseiro em que a sensibilidade é o seu grande trunfo. Diálogos curtos, mas com sutilezas ricas, somam-se a letras e melodias de raro bom gosto.

Recomendo.