sexta-feira, setembro 21, 2007

Medos... ou o conforto da inércia.

Em meio ao trânsito confuso, aos engarrafamentos, à velocidade das estradas, à destruição das distâncias operada pelo desenvolvimento tecnológico, deparamo-nos, vez em quando, com situações que nos retiram da nossa situação de conforto, que nos deixam tensos e que geram sensações físicas intensas: do suor aos calafrios, passando por doces frios na barriga, joelhos em aparente decomposição e lágrimas ilógicas.

Não raro, tais sensações são atendidas pela palavra “medo”. Medo, segundo a definição tradicionalmente posta em nossos dicionários, é o sentimento de grande inquietação ante a noção de um perigo real ou imaginário, de uma ameaça, susto, pavor, temor, terror.

Creio que devemos ir mais além. O que é o medo, senão a perspectiva de não sabermos qual a conseqüência de nossos atos? O que vamos sentir, ver ou pensar a partir do enfrentamento do desconhecido, mesmo que este não se constitua em perigo, mas em algo prazeroso?

O medo não está ligado a sentimentos ou sensações ruins. Ele existe, não raro, quando nos deparamos com situações que podem ser boas, inesquecíveis, secretamente desejadas, rompantes, ou até permanentemente esperadas. Muitas vezes, por mais que desejemos uma mudança, uma novidade, algo que sacuda as nossas vidas, por pouco tempo ou para sempre, quando ela está próxima, o sentimento do medo nos faz tremer e, muitas vezes, deixando de atender à nossa vontade, recuamos. A explicação de tudo isso talvez seja a necessidade da manutenção do conforto, da segurança.

Em uma sociedade cada vez mais desumanizada, destituída de valores ético-filosóficos e amarrada à relação “consumo-prazer”, o sujeito busca pontos de apoio que o façam se sentir seguro e, mesmo que não exista mais a identificação com tais apoios, permanece lá, sentado, imutável, inerte às novas perspectivas, novos vôos, novos sonhos, enfim, novas sensações.

Desde criança se ouve falar que não se troca o certo pelo duvidoso, e isso, de certa forma, fica impregnado na mente e nas atitudes, o que leva o indivíduo a uma inaptidão a enfrentar seus medos. Ocorre que, nem sempre, o certo pelo duvidoso se constitui em uma relação de troca. Por que não se buscar, se possível o melhor de dois mundos? A deturpação de tal percepção de segurança leva o indivíduo à acomodação e as novas oportunidades que o retiram de tal posição de conforto são concretizadas por aquilo que chamamos de “medos”.

Portanto, o não enfrentamento de tais situações, o escudo que o medo traz consigo, na verdade, nada mais é que a manutenção do conforto da inércia. O enfrentamento dos medos é algo que deve ser desenvolvido por cada um de nós, na busca de nosso aperfeiçoamento. Assim, é de se desejar que nossas escolhas não se dêem, negativamente, em virtude do medo, mas, positivamente, por entendermos o que é melhor e o que vale a pena.

terça-feira, setembro 18, 2007

Qual o gosto?

Desde que nascemos, quase sem percebermos, nossa vida orbita a partir da língua. Não da língua falada, mas deste músculo mágico que nos faz sentir sabores doces, amargos, azedos, salgados, ou, até mesmo, inidentificáveis.
Desde o momento em que colocamos nossos lábios no seio de nossas mães, passamos a sentir, enquanto sorvemos, o sabor da vida. Passamos pelos doces, balas, sorvetes, biscoitos e rapaduras que transformam nossa boca no centro mundial do açúcar. Saímos da infância, ingressamos na adolescência e caímos dentro da boca de alguém.
Exatamente, falo do beijo, de línguas de sabores diversos acariciando-se lenta e ritimadamente (ou não), sem pressa, sem compromisso, relógio ou preocupações. Naquele momento, lábios, bocas, saliva e sabor. Muito sabor.
Qual o gosto do beijo?
Depende do momento, não basta apenas a sensibilidade das papilas gustativas, tudo o que, mais uma vez, orbita ao redor da boca interfere no paladar. O beijo roubado, o beijo mordido, o beijo forçado, o beijo feroz, o beijo na orelha, no pescoço, no ombro, nas costas...
O beijo pode ser doce, amargo, áspero, ritmado ou sem compasso, luminoso, melecado, macio ou aguado, não importa. Cada um tem seu sabor. Mas qual o gosto do beijo ideal?
Não é a pasta de dentes ou o chiclete que fazem a diferença, mas o abraço, o carinho, o afagar ou puxar cabelos, a respiração ofegante, o que ouvimos, vemos, cheiramos, a energia magnética que os corpos entrelaçados se transmitem. Enfim, o gosto do beijo depende da abertura de todos os sentidos.
Assim, descobriremos que o gosto do beijo ideal é o gosto da vida.
Beije, cheire, ouça, veja, sinta, descubra seus sentidos e dê maior sentido à vida.