quinta-feira, agosto 27, 2009

Luzes que fitam.

Não sei bem ao certo o que significa Inmax. Talvez seja um nome, uma sigla, uma abreviação, conjugação de palavras ou um termo técnico. Na verdade, pouco se me dá, pois apesar de ignorante em relação ao seu significado, observo o que ele me representa. Significa a permanência.


Feito de plástico branco, retangular, pouco mais de 20cm de altura por 30 de largura, em seu centro se apresenta uma tela. O que ela exporta é o que me importa e o que expõe me expõe. Internamente! Na tela uma luz vermelha traça os batimentos de um coração abatido por um misto de tempo e fragilidade genética. Outra luz, verde, traduz a oxigenação de um sangue enfumaçado.


As luzes do Inmax oscilam e alternam-se na medida em que mais presto atenção nelas, parecem seguir a impaciência do meu olhar. Riem e conversam entre si. Zombam da minha agonia e impotência. Mas, ao que parece, só eu as noto. Ninguém na sala dá muita bola para elas. Com suas máscaras, os médicos conversam entre si e ignoram o que acontece na tela que me perturba. Eu os perturbo.


Mesmo entorpecido pelos anestésicos, não esqueço de Inmax e suas luzes travessas. Aliás, continuo a repará-las. Pois estão lá, e quanto mais alegres, melhor para mim...


A maior arte de Inmax se dá quando suas luzes, parecendo cansadas, resolvem parar de se mover e se transformam em duas linhas perfeitamente retas. Não satisfeito com a linearidade visual, Inmax ainda é cruel a ponto de fazer soar um sinal agudo, contínuo e mortalmente irritante, como se algo de grave estivesse de fato acontecendo.


O que de certo modo me conforta é que, um dia, Inmax também ficará obsoleto.


*Exercício da Oficina de Imitação de estilo oferecida pelo Prof. Luís Augusto Fischer, no Studio Clio, referente ao texto “A preocupação do pai de familia”, de Franz Kafka.

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