sexta-feira, novembro 16, 2007

Da agonia da espera ou Algo mais pesado.

Agonia, pelos gregos, era concebida como a luta contra a morte. Talvez nenhum sentimento seja tão próprio do ser humano, tão natural, intrinsecamente atrelado à condição humana. Há algum tempo li Contos de Amor e Morte, de Arthur Schnitzler, o primeiro médico/escritor a explorar o subconsciente na literatura. Ontem, o acaso me fez encontrá-lo novamente – o livro, não Schnitzler, que se foi em 1931.

O segundo conto do livro trata da paixão levada às últimas conseqüências por um poeta que, enamorado pela personagem que ele criara, vem a morrer no momento em que conclui o poema em que ela também se fora. A agonia do narrador e do poeta se confundem, esse na da espera e no medo da perda do amigo, este nos momentos de sofrimento causados pela sua própria pena na sua paixão que, submersa novamente no nada, leva-o junto pela mão.

A agonia da espera é a sensação talvez melhor explorada nos contos em questão e, eu, não só, mas, também, influenciado por eles, resolvi tratar do tema.

A espera e o sentimento que a acompanha sempre foram objeto de desconforto e, de certa forma, dificuldade de aceitação pelo ser humano.

Por qual razão, o avião nem parado está e as pessoas que fizerem um vôo de pouco mais de uma hora levantam-se e acotovelam-se para saírem primeiro da aeronave? Mesmo que ainda tenham que aguardar por dez ou quinze minutos que sua bagagem chegue?

Qual o significado de se olhar repetida e compulsivamente para a tela de um telefone celular em silêncio, enquanto espera-se a consulta médica ou a chamada do número de nossa senha?

Será que apertar mais de uma vez no botão de chamada do elevador fará com que ele chegue mais rápido?

Tudo isso, ao que parece, se relaciona com essa agonia contida na situação da espera. Muitas vezes tal agonia se reflete em situações sem significado, como nas acima citadas, mas, certamente, ali não se congelam. A agonia da espera do reconhecimento profissional, da censura diante de um equívoco, da indefinição do futuro seja a curto, médio ou longo prazo, da espera de um sinal correspondente ao fascínio por outra pessoa, do resultado do exame médico realizado, da espera do diagnóstico adequado ou de um doador compatível, são exemplos mais precisos dessa espécie de dor gerada pela espera e que alteram as nossas reações frente ao mundo e, até mesmo, a compreensão real de seu significado.

Muitas vezes, tal sensação ou sentimento, se não bem tratado e dimensionado pelo sujeito, pode conduzir a caminhos escuros, a labirintos que o impedem visualizar o dia seguinte ou de perceber uma perspectiva mais favorável. Por isso que, comumente, agonia e depressão se confundem, ou uma leva à outra, ou a primeira como um sintoma da segunda. O peso de tal situação pode petrificar o sujeito sem dar-lhe tempo para perceber a dificuldade em que se encontra, retirando-lhe o prazer de usufruir das coisas mais banais e, ao mesmo tempo, mais belas da vida.

Um comentário:

  1. Grande Professor, adorei os seus artigos, leitura agradavel. Um forte abraço, sucesso.
    Leonardo Mendes

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