Bernardo acreditava em um mundo sem regras rígidas. Tanto em relação ao trabalho quanto nas questões afetivas. Era ideologicamente contrário a tais predisposições que buscavam, segundo ele, domar o animal que cochila em cada um de nós.
O problema surgia quando se envolvia emocionalmente com alguém. Era difícil. Geralmente iniciava seus relacionamentos sem muita convicção, devagar, sem grandes demonstrações de afeto, discursando sobre a liberdade, sobre a busca permanente de prazer... ...até o dia em que percebia que a liberdade do outro era uma carga pesada e áspera demais para suportar.
Aí, sofria. Hipócrita? Não. Humano. Demasiado humano.
E então, começava a tortura: continuar, investir, afastar-se... E aí, sem perceber, ou secretamente notando, também impunha sofrimento. Palavra chata! Superada em sua amolação apenas pela imolação de suas convicções.
E assim vivia; sem entregar-se de verdade. Sempre deixando abertas saídas de incêndio para o seu coração. Rotas fáceis. Cômodas. Porém, destituídas de taquicardias e mãos suadas.
Nunca se perdera em meio ao dia a dia com pensamentos distantes em alguém. De certo modo, lamentava isso. Mas em verdade, gerava isso. Morria de medo de tal possibilidade, pois tal fuga de imagem significaria a renúncia às convicções de liberdade plena – tão lindas no papel e na fala, mas tão distantes do coração.
O auto-engano era ideológico, não sentimental. Sem a construção teórica seria mais fácil.
Um dia, rompeu com seus ideais. Assumiu-se como alguém possessivo, capaz de sofrer por alguém, ao mesmo tempo egoísta e sujeito a deprimir-se com um simples telefonema não atendido... Rompeu com seu discurso. Para alguns amigos, desmoralizou-se. Para si, finalmente, viveu!
Ótimo irmão! Ainda desconfio de algumas de suas palavras ou de meus sentimentos?! Resistência da tradição que permeia minha (pré)compreensão sobre o mundo e eu... e ela. Fraterno abraço. Bernardo e/ou algum amigo.
ResponderExcluirHOMEM SEM GRAVIDADE, AMOR LÍQUIDO E SOCIEDADE DA DECEPÇÃO.
ResponderExcluirSe viver impõe o sofrer, então, que venha a vida!
ResponderExcluirDo caralho, Felipe!!
Abraço!
Felipe, que lindo e sensível!
ResponderExcluirUma palavrinha para seu personagem Bernardo: "amar é um deserto e seus temores..." não é fácil mesmo, dói e dá medo, mas se não for por amor, não se vive, nada desenvolve, não há crescimento. Um abraço. Carmen