sexta-feira, março 04, 2011
Entre pneus, pedais, velocidade e desaceleração.
O mundo olhou para Porto Alegre na semana que passou. Mais especificamente, para a “cidade baixa”, bairro boêmio, daqueles em que sentimos a cidade pulsando, uma panela de água fervente pronta para a ebulição. Juntamente com o Bom fim, para mim, são os que melhor representam o espírito porto-alegrense, seus vícios, defeitos e virtudes.
Ali, em uma de suas ruas movimentadas, a célula do movimento “Massa Crítica” organizara uma manifestação no sentido de conscientizar as pessoas da necessidade de uma nova utilização do espaço urbano, privilegiando bicicletas em detrimento de automóveis. O grupo tem origem no início dos anos 90, na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos. De lá, passou a ser replicado no resto do mundo.
Como de hábito, na última sexta-feira de cada mês, sai o “Massa Crítica” pelas ruas de várias cidades do mundo para celebrar as bicicletas em uma tentativa de chamar atenção das autoridades públicas acerca da necessidade de uma racionalização do espaço público para a utilização de meios de transporte não poluentes, como as magrelas.
Em meio ao "passeio", um motorista aparentemente enfurecido avançou contra os ciclistas, colhendo mais de uma dezena e deixando chocadas as pessoas que participavam e que depois assistiram as cenas. Felizmente, não houve mortes. A partir daí, a dificuldade de compreensão, somada ao anseio de crucificação do motorista em praça pública ocupou os principais espaços de discussão da cidade. O discurso comum é o de que a atitude é injustificável e incompreensível.
Discordo. O ocorrido é compreensível. Mas não é aceitável. É o reflexo de uma cultura estabelecida há muito tempo. Sempre me recordo de um desenho da Disney que assisti algumas vezes na casa da minha avó nos domingos pela manhã, antes do início da década de oitenta. O fantástico youtube promoveu o meu reencontro com essa história protagonizada pelo Pateta e que para mim, explica boa parte do ocorrido. Detalhe: o vídeo é de 1950.
A autossuficiência dos motoristas, somadas às neuroses do cotidiano, à exigência da pressa e a uma constelação negativa de fatos – à “Dia de Fúria”, pode nos permitir compreender o ocorrido. Aceitar ou justificar não, mas compreender sim.
Entendo que o desafio de cada um é, apesar da violência da conduta, não sairmos com tochas e capuzes brancos atrás dos culpados para a execução pública.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
perfeito o comentário.
ResponderExcluiraliás: quem de nós já não teve vontade de atirar o carro contra a massa? no entanto temos um superego relativamente estável que diz para o id: "ô meu, isso não dá..."
Felipe, no dia do atropelamento dos ciclistas também não pude deixar de me recordar deste desenho. ótimo post.
ResponderExcluirAbraço
Achei a reflexão sensacional. Olhar para o outro execrado não é fácil. Revela nosso lado podre e assassino. Realmente, acho que o ato é compreensível. Cada um pode tentar compreendê-lo a partir de suas limitadas experiências. De suas próprias vontades mais sórdidas. Quem sabe possamos até lidar com isso sem matar o execrado...
ResponderExcluirA diferença entre o maluco e o não (tão) maluco é que aquele tem vontade de jogar o filho bebê na parede, e joga...
ResponderExcluirFÁBIO HEERDT
Gostei muito! É o que penso também. Aliás nossos pensamentos são muito parecidos desde que começaste a te expressar há muitos anos atrás.Beijos
ResponderExcluirLegal teu BLOG Felipe, parabéns e vida longa pra ele.
ResponderExcluirAbraço.